Gotas menores
acompanham facilmente os filetes aerodinâmicos ao passo que gotas grandes são mais
resistentes e se desviam menos. A consequência que resulta disso é de que QUANTO
MAIORES AS GOTAS DE ÁGUA MAIOR SERÁ O ACÚMULO DE GELO SOBRE A AERONAVE.
Os filetes
aerodinâmicos se desviam mais ao longo dos perfis mais espessos e sofrem menos
deflexão ao longo dos perfis mais finos. A consequência disso é que o GELO
ACUMULA MAIS RAPIDAMENTE SOBRE PERFIS MAIS FINOS.
O acumulo do
gelo aumenta com a velocidade de deslocamento da aeronave. Assim: a razão de
acumulo de gelo se faz CONSTANTE ou QUASE CONSTANTE, até
cerca de 250 KT. A velocidades maiores o acúmulo AUMENTA RAPIDAMENTE. Para
altas velocidades, como é o caso dos grandes jatos, o processo se inverte, pois
o atrito e a altitude dificultam a formação de gelo. Velocidades de 500 Kt ou
mais praticamente não apresentam problemas com formação de gelo.
As principais consequências advindas do acúmulo de
gelo sobre aeronaves em voo são as seguintes:
1-BORDO DE ATAQUE DAS ASAS - O
gelo começa a acumular ao longo da parte central e vai progredindo na direção
do intradorso e do extradorso. Altera o fluxo aerodinâmico, provocando perda de
sustentação e aumento na resistência ao avanço e, também, do limite da
velocidade de perda. O gelo transparente ou cristal, típico da trovoadas, é o
mais perigoso no caso,pois acumula numa proporção exagerada.
2-HÉLICES - O gelo sobre as
hélices reduz sua eficiência aerodinâmica e consequentemente a tração efetiva
que se reflete diretamente no decréscimo continuado da IAS. Embora o valor de
RPM se mantém constante, a IAS cai aos poucos com a mesma potência. A vibração
que surge pelo acúmulo do gelo nas pás, pode ser confundido como falha
mecânica, razão que não pode ser considerada com o único elemento identificador
do gelo. Um aumento de RPM pode fazer com que uma parte do gelo se desprenda,
devido ao aumento centrífugo e nos multimotores, pode-se ouvir o barulho das
pedras de gelo batendo na fuselagem. A IAS, portanto começa a cair novamente,
devido ao novo gelo acumulado. Um bom indício inicial de gelo sobre uma hélice
é o gelo que começa a acumular sobre seu cubo.
3-CARBURADOR - Um carburador
convencional está sujeito a formação interna de gelo, na passagem da borboleta,
devido ao resfriamento por efeito de Venturi. A expansão do ar tira em cerca de
15°C na temperatura do ar e a evaporação da gasolina cerca de 3°C a 4°C. Isto
quer dizer que em um ar de 18°C e umidade relativa de 70%, um carburador poderá
acumular gelo, porque sua temperatura total vai a 0°C e o ar se torna saturado
pelo resfriamento. O gelo na borboleta reduz a entrada de ar enriquecendo a
mistura. O valor da RPM permanece constante a IAS também, porém o motor começa
a perder potência. Uma boa medida preventiva é de manter a temperatura do
carburador sempre acima de 0°C. É bom lembrar nesse caso que o gelo cristal de
trovoada pode "calar" o motor em menos de um minuto, se o carburador
estiver entregue a própria sorte.
4-TUBO DE PITOT - Deve ser
mantido aquecido sempre que for penetrar nuvem ou áreas de precipitação. Gelo
que se forma nele prejudicará os instrumentos conectados ao sistema estático
(indicador de velocidade, altímetro e climb).
5-PARA-BRISAS - Gelo ou geada que
se acumula sobre um para-brisa, se tornam perigoso para operação de pouso e
decolagem, principalmente para aeronaves que são desprovidas de desembaçador e
helicópteros.
6-ANTENAS - Gelo acumulado em uma
antena pode enrijecê-la e parti-la. Os modernos equipamentos de bordo dispõem,
entretanto de meios para combatê-lo.
7-ROTOR DE HELICÓPTEROS - O gelo
que se acumula no conjunto de rotor principal gera vibrações críticas e perda
de controle. A indicação do torque aumenta gradualmente e a capacidade e
auto-rotação é diminuída perigosamente, principalmente quando em voo próximo ao
solo, durante o inverno. O gelo sobre o rotor de cauda gera vibrações e redução
da sua eficiência. O efeito centrífugo proveniente da rotação poderá ajudar na
remoção do gelo, porem os pedaços livres que serão arremessadores poderão
danificar a fuselagem e o rotor principal.
8-REATORES - A sucção na parte
dianteira de uma turbina reduz a temperatura do ar, podendo facilitar a
formação de gelo na entrada sem que haja acúmulo de gelo sobre as asas. Esse
gelo diminui o volume de ar sugado, enriquecendo a mistura e provocando aumento
da temperatura de exaustão, com perda proporcional no empuxo. O uso do sistema
antigelo deve ser regra básica de segurança.
9-ESTABILIZADOR HORIZONTAL - Um
piloto deve ter em mente a possibilidade de formação de gelo no bordo de ataque
do estabilizador horizontal. Esse gelo altera as forças aerodinâmicas que atuam
sobre a superfície móvel e isso se torna perigoso, principalmente nas
aproximações sob condições IFR de inverno rigoroso. Um piloto de um modo geral tende a confiar no
seu próprio julgamento, embora nem sempre possa imaginar que esteja ocorrendo o
acumulo de gelo sobre a sua aeronave, principalmente sobre o estabilizador
horizontal. Devido a isso é sempre aconselhável usar o sistema antigelo
disponível na aeronave, sempre que haja condições favoráveis ao gelo, mesmo que
ocorram em períodos curtos de tempo. A um piloto em voo é sempre importante
lembrar que "O GELO ESTÁ SEMPRE ONDE ELE É ENCONTRADO".
Umas poucas regras elementares
devem ser sempre lembradas quando voando em condições favoráveis ao gelo. São
elas:
1- Quando em voo sob condições
favoráveis ao gelo, um piloto deve acionar as superfícies de comando de vez em
quando, manual e bruscamente, a fim de quebrar e soltar algum gelo que possa
acumular nos bordos dianteiros dessas superfícies.
2- Ter em mente que um gelo
acumulado sobre um radome de radar pode obliterar a emissão do mesmo
impossibilitando recepção de eco. O resultado é a percepção de um
"chuvisco" no escopo.
3- O gelo é mais frequente entre
0°C e -10°C embora podendo ocorrer mais raramente em temperaturas inferiores a
-30°C.
4- Gelo intenso sempre ocorre em
chuva moderada a forte, sob temperaturas inferiores a 0°C.
5- Evitar curvas de meia
inclinação com a aeronave revestida de gelo espesso.
Relativamente à intensidade, o
gelo pode ser assim classificado:
a- Suave: o gelo é apenas
perceptível e não há necessidade de usar o sistema de defesa.
b- Leve: pode acarretar acúmulo
apreciável caso o voo seja prolongado sob tal condição. O sistema de defesa
poderá ser acionado esporadicamente.
c- Moderado: o acúmulo é
apreciável mesmo ao longo de pequenas distâncias. O sistema de defesa deve ser
usado obrigatoriamente.
d- Forte: o acúmulo é grande e o
sistema de defesa opera ao máximo.
e- Extremamente forte: o sistema
de defesa simplesmente não dá conta do recado. Mudança de nível imediata deve
ser feita, pois há perigo de danos estruturais.
Os sistemas de defesa usados
contra o gelo nas aeronaves são de dois tipos:
a- Sistemas degeladores ou descongelantes:
que atuam sob o gelo já formado. Eles simplesmente quebram e removem o gelo. é
ainda usado na aviação geral, em aeronaves antigas.
b- Sistemas preventivos ou
anticongelantes: que previnem a formação de gelo. Eles evitam o seu acúmulo.
São os sistemas mais usados atualmente.
Os sistemas
degeladores são de operação mecânica. Consistem em capas de borracha pretas que
envolvem os bordos de ataque. O ar é injetado sob pressão através de tubos e de
modo alternado, fazendo a capa ondular, deformando o perfil aerodinâmico,
quebrando o gelo e fazendo com que o fluxo de ar desloque os pedaços de gelo
quebrados. O grande cuidado e não deixar que o gelo cubra totalmente a
superfície preta fixando-se no metal.
Os sistemas preventivos são de
dois tipos de uso bem diferentes:
1º-Sistema de superaquecimento
que aquece os bordos de ataque por meio
de placas elétricas ou de câmaras de aquecimento; 2º-Sistema repelente que
espalha líquido oleoso e anticongelante sobre as superfícies críticas. O
gelo se forma sobra a camada líquida e é levado pelo fluxo de ar. É muito usado em bordo de ataque e pás da
hélice de alguns turboélices; além dos jatos.
Referência
CEZAR, FARID. METEOROLOGIA. 1ªEdição. EDITORA TÉCNICA DE AVIAÇÃO
Obrigado por dispor deste assunto.
ResponderExcluirNo sul do Brasil tem-se um inverno rigoroso e informações a este respeito são preciosas.
Obrigado!